O livro O Cinema Brasileiro Hoje, de Pedro Butcher, explica o
cinema da "Retomada" - nome dado ao cinema brasileiro atual a partir
da recuperação da produção cinematográfica no Brasil de 1993 e 1994
Butcher inicia o livro isolando e explicando brevemento as palavras
“cinema” e “brasileiro”. O primeiro surgiu no final do século XIX, na Europa,
espalhando-se rapidamente ao redor do mundo com muita procura da sociedade como
forma de entretenimento. Com o passar do tempo, novas tecnologias surgiram para
retratar a realidade, de forma que o filme tradicional viesse a ser somente uma
das formas de audiovisual.
Quando fala sobre o “brasileiro”, o autor se utiliza de François
Truffaut e sua teoria de que cinema nacional não existe, mas sim cineastas
nacionais. Ele diz que uma das poucas exceções é o cinema americano, pois é o
mais influente no mundo. Nos Estados Unidos que nasceram as grandes produções
do cinema, em Hollywood, especificamente. Desde o século XX, os filmes
americanos são majoritários no mercado nacional e internacional.
O primeiro capítulo traz o processo de recuperação do cinema
brasileiro após a grande crise que aconteceu nos anos 90, porém ele deixa claro
que a “retomada” a que tanto se refere é usada no seu sentido literal de
retomar aquilo que foi interrompido e que a crise não aconteceu por fatos
marcados, mas sim por “surtos”. A crise do cinema foi reflexo de tudo que
acontecia no Brasil naquele momento, como a extinção da Embrafilme, que não
resistiu a competição com a TV, e o impeachment de Collor.
Os filmes produzidos nos anos 90 não geraram muito público e o
Festival de Cinema de Gramado, por exemplo, desistiu de exibir os filmes
nacionais. Somente em 1994 o cinema começa a dar sinal de recuperação com a
estreia de A Terceira Margem do Rio, Lamarca, Veja Esta Canção, entre outros, e
em 1995 que essa recuperação se torna mais forte. Carlota Joaquina não prometia
muito sucesso, mas a resposta do público foi muito maior que o esperado e, em
pouco tempo, o filme já havia vendido mais de 1 milhão de ingressos e
distribuído cópias por todo país.
Terra Estrangeira, de Walter Salles, não fez
o mesmo sucesso que Carlota, mas trouxe uma reflexão sobre o que estava
acontecendo no país naquela época, gerando debates e participações em
festivais, o que atraiu a atenção internacional para o cinema nacional
brasileiro.
No capítulo seguinte, Butcher cita os anos 70 e 80, como também o
crescimento do mercado televisivo que aumentou as produtoras audiovisuais. A
fixação da Rede Globo fez com que muitas pessoas se interessassem mais pelo
mercado audiovisual e procurando o Jornalismo, o Cinema e afins para formação e
profissionalização.
Depois do ano de 1995, muitos diretores lançarem seus primeiros
filmes no Brasil, mesmo sem incentivo algum. Alguns deles abriram suas
companhias e estas se tornaram os pólos de produção da retomada, como a
Videofilme (dos irmãs Salles) e a O2 filmes (de Fernando Meirelles).
Em 1998, com a estreia de Central do Brasil, o cinema de retomada
entrou em uma fase nova e o filme teve uma procura incomum dentro e fora do
país. Apesar das críticas, o filme de Walter Salles acumulou mais de 20 troféus
e estreou em vários países do mundo inteiro, o que fez de Walter o diretor de
retomada de maior prestígio internacional.
Depois da estreia de Central do Brasil, os filmes começaram a
retratar a violência urbana, antes mascarada pelos governantes e até mesmo pela
população, como foi o caso de Cidade de Deus e Ônibus 174.
Cidade de Deus abriu portas para Carandiru que atingiu 4,6 milhões
de espectadores em 30 semanas seguidas em cartaz. O filme foi selecionado para
o Festival de Cannes de 2003, ampliando o prestígio do cinema brasileiro. Ambos
os filmes, apesar de apresentarem estéticas diferenciadas, trouxeram o mundo do
crime para a realidade de quem, muitas vezes, nunca tinha tido contato com
este. O sucesso de Carandiru ajudou a alavancar o cinema nacional, voltando a
casa dos 100 milhões de espectadores só no ano de 2003.
Cidade de Deus
Ônibus 174
Carandiru
No capítulo 6, Butcher apresenta o crescimento da televisão, que
gerou algumas transformações marcantes no modo de “fazer cinema”. A Globo
concentrou a produção nacional audiovisual tanto no campo narrativo, com suas
novelas, séries e minisséries e também no jornalismo, influenciando a vida da
sociedade brasileira em todos os pontos. Os filmes produzidos nesta época
também não escaparam do chamado “padrão Globo de qualidade”.
O autor questiona o leitor se realmente existia/existe o cinema
independente, apontando os fatos históricos da Globo Filmes e o surgimento do
cinema nas outras emissoras de TV. Na Globo Filmes, existe a possibilidade de
fazer cinema independente, que não obedece todas as normas do padrão da
emissora, visto que esta se diz sempre aberta ao que é inovador. Cidade de Deus
e Carandiru foram produções da emissora e se tornaram sucessos maiores que os
mais adequados aos padrões da Globo, como, por exemplo, Acquaria, com Sandy
& Junior.
Entre 1995 e 2004, mais de 40 documentários foram lançados, o que
foi um “feito excepcional”, pois as salas de cinema há muito tempo se dedicavam
apenas as narrativas. Walter Salles, que trabalha com os dois gêneros, diz que
ficou muito difícil competir com a realidade. Não é a toa que os filmes sobre
pobreza, tráfico de drogas e crime como Tropa de Elite, grande sucesso do
cinema brasileiro, são muito mais procurados pelo público que as narrativas de
comédia e drama.
Butcher conclui sua obra
dizendo que o Brasil está sim em uma fase de ascensão no cinema, mas muito
longe de de atingir um patamar ideal. A proporção de sala de cinema/habitantes,
em 2003, era de uma para 93,4 mil, sendo o ideal de uma para cada 30 mil. Houve
realmente uma grande reestruturação, profissionalização e maior acesso as
tecnologias que vemos nas grandes produções Hollywoodianas, mas ainda não há o
amadurecimento dos projetos antes da produção do filme propriamente dito.
Muitos filmes entram em cartaz e ainda nem têm um acordo de distribuição, por
exemplo, o que enfraquece a produção. Existe, portanto, um longo caminho a ser
percorrido.
Paula Lima